Rodolfo Galvani2023-03-28T10:37:15+00:00

Florence, uma unanimidade

Rodolfo Galvani testemunhou os múltiplos talentos do amigo desde a juventude

O que o senhor considera que foi o maior legado de Carlos Florence?

Além de ser um cara que conhecia tudo do setor de fertilizantes, pela grande vivência que teve, ele era uma unanimidade. Todo mundo gostava do Florence. Não tinha uma pessoa que não falasse bem dele. Sempre foi uma pessoa extremamente gentil, acessível, aberto para ajudar quem o procurasse. Então, só deixou amigos.

Como o senhor o conheceu?

Entrei no setor como transportador de fertilizantes, nos anos 60. Conheci o Florence nessa época, como vendedor da Quimbrasil. Tínhamos amigos em comum. Eu sou de São João da Boa Vista e ele de Espírito Santo do Pinhal, uma cidade vizinha. Depois, junto com um grande amigo nosso, o doutor Hibraim Dias de Toledo, que era diretor da Benzenex, eles montaram uma empresa chamada Cobrin. Tocaram essa empresas por uns bons anos, e depois, por uma dessas maluquices do setor, em que o dólar dobra de preço e fica difícil vender, com crises e tal, acabaram vendendo a Cobrin. Aí o Florence foi convidado para trabalhar na AMA Brasil, ficou lá por muitos e muitos anos, prestando um excelente serviço. Mas sempre foi um cara múltiplo, tinha outras habilidades. Era excelente jogador de basquete, pintava e desenhava muito bem, puxou ao tetravô dele [Hercule Florence, desenhista, naturalista, inventor e tipógrafo nascido em Nice, na França, e integrante da expedição Langsdorff, que cruzou o Brasil entre 1824 e 1829], e finalmente se meteu a escrever. Eu falava pra ele que era a reencarnação do Guimarães Rosa. Ele inventava muitas palavras. E lamentavelmente não cumpri uma promessa que fiz pra ele: fui colega de infância do Davi Arrigucci Jr., professor da USP e crítico literário. Cheguei a ligar para o Davi falando dos textos do Florence, mas acabei não levando os textos.

Que lições Florence deixa para as novas gerações?

Olha, a produtividade da agricultura não existe sem fertilizantes, e ele sempre acreditou nisso. E acreditou numa agricultura moderna, tecnificada. Tem muita gente que às vezes confunde fertilizante com veneno. Gente desinformada, né? Ele foi um cara que a vida inteira ajudou a difundir as boas práticas de adubação, boas práticas agrícolas em geral. Foi em exemplo de profissionalismo. Acreditava no que vendia.